"Raspas e restos me interessam....pequenas porções de ilusão..mentiras sinceras me interessam...eu to pedondo a tua mão, me leve para qualquer lado, só um pouquinho de proteção a um maior abandonado..teu corpo com amor ou não...raspas e restos...me ame como a um irmão...mentiras sinceras"
Cazuza - O Melhor Cínico
Inventar um amor definitivamente é roubada. Tudo que inventamos fica no âmbito da ilusão, da imaginação. Não é real, é imaginário. Inventar um amor por vaidade então...só pode dar errado. Mesmo que fique uma sensação (falsa) de que se é amada ou, no mínimo, importante para alguém. O problema de se deixar levar por uma ilusão dessas por muito tempo é que chega uma hora que o que é imaginário se confunde com o que é real.
Mas a realidade acaba engolindo a fantasia, não tem jeito. Acaba sendo falta de responsabilidade, falta de instinto de auto preservação, fingir que não se está vendo. Eu tentei fingir, não consegui.
Me interessei por "raspas e restos", por "mentiras sinceras", por "pequenas porções de ilusão", por "um pouquinho de proteção". Mas tudo tem limite. Migalhas não são suficientes para ninguém, também não são para mim. Estou farta de mentiras sinceras. O fato de serem sinceras não apaga o fato de serem, ainda assim, mentiras.
Pelo menos, tem uma pontinha de alívio (misturada com uma dorzinha chata que fica o dia inteiro pesando). É melhor não esperar nada, do que esperar e ficar frustrada. É melhor sentir saudade e ter certeza que ela só vai passar com o tempo, do que sentir saudade esperando a hora de acabar com ela. É melhor não ter "migalhas" ocupando espaços de inteiros.
É fácil? Não, não é. Me faz lembrar que o dia tem 24 horas, porque eu vejo cada minuto no relógio do celular, quando olho para ver se não tem uma ligação perdida. Me obriga a fazer muitas e muitas coisas que eu não tenho muita vontade ou paciência, para fazer o tempo passar e a vida voltar ao normal mais rápido. Preciso ficar me condicionando para espantar pensamentos nocivos que especulam sobre coisas que nunca vou saber. Me dá muito sono (fuga). Me dá muita insônia (os pensamentos ás vezes voltam). Tudo isso, além de muitas outras coisas chatas de passar.
Apesar de estar soltando uma parte da panela não significar, necessáriamente, estar soltando a panela toda, já é um avanço. Doloroso, mas qual avanço não é? Talvez precise ficar um tempo "ligada no piloto automático" para voltar a ver o brilho das coisas. Espero que "passar pelas sombras para chegar a luz" se aplique nesse caso. Espero mesmo, porque ficar passando lixa na ferida, definitivamente não é algo que me faça bem. Meu medo é que, a longo prazo, eu não sinta mais nada...nem dor.
Tudo passa. Vai passar.
Outra música do Cazuza. Essa para lembrar o motivo de negar as migalhas...
Eu quero a sorte de um amor tranquilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida do embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado para dar garantia
E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que agente não vive
Transformar o tédio em melodia
Ser teu pão ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno anti monotonia
E se eu achar tua fonte escondida
Te alcanço em cheio o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão
E tua mente não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria
