quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A Lata!

Até que ponto aquilo que ouvimos e vivemos na nossa infância tem o real poder de influenciar nossos comportamentos na vida adulta? Que influenciam, influenciam, todo mundo sabe disso.
Mas..até que ponto? Esta era uma pergunta que eu fazia a mim mesma com muita frequência.
Apesar de saber que nossas experiências na infância são determinantes para a nossa personalidade e comportamentos quando adultos, eu sempre achei que talvez pudesse existir um pouco de exagero nisso.
Eu estava errada!
Já fiz algumas regressões na tentativa de voltar (daãããã...óbvio) e chegar a fatos da minha infância que teriam dado origem aos meus medos, meus comportamentos limitantes.
E cheguei em alguns, na maioria relacionados ao meu pai, com quem sempre tive muita afinidade e um relacionamento muito bom. Mas, por mais que os fatos tenham sido marcantes, ainda não tinha encontrado o fato que tinha gerado o meu medo de ser abandonada em relacionamentos. Sentia que havia algo maior, algo antes desses dos 10 ou 11 anos onde cheguei.
Medo esse que vezes me paralisava, vezes me fazia sair correndo, vezes me fazia me apegar aos relacionamentos que sabia que não dariam certo (até para eu poder reforçar o abandono, inconscientemente ou nem tanto...), vezes me fazia sabotar tudo o que era bom. Em suma: fazia tudo errado por conta DESSE medo.
No último EV, na linha do tempo, induzida pela Fabi, eu estava lá, andando pelo salão, prestando atenção aos treinandos e na indução ao mesmo tempo. Acabei entrando..de olho aberto e tudo..rs
Resolvi bater um papo com aquela menininha de olhos grandes, sorriso largo e muitos cachinhos no cabelo. E pedi para ela que me mostrasse qual era o fato que a tinha deixado com tanto medo.
Mais tarde, assistindo ao filme 2 Vidas, de repente veio! E doeu! Eu senti exatamente a sensação da menininha e da meninona, quando está com medo. Era igual. A emoção era a mesma. Um desespero, uma coisa da garganta ao estômago, uma vontade de pedir e implorar para não fazerem isso comigo que eu não merecia.
Fato: eu devia ter no máximo 4 ou 5 anos. Morávamos na saúde. Pelo bairro andava uma senhora, uma mendinga provávelmente, com um carrinho de feira (acho...). Ela passava nas casas pedindo ajuda ou comida. Eu tinha medo dela. Não sei porque. Como eu devia ser uma santa, meus pais aproveitaram o medo que eu tinha dela para me colocar freios. Eles diziam que iam me entregar para ela e ela ia me levar embora para fazer sabão de mim. Pode parecer bobo agora, mas naquela época não era. Eu entrava em pânico, chorava, implorava para os meus pais não fazerem isso. E me lembrei de pensar "Eles vão deixar? Vão me entregar mesmo!". Eles eram todo o meu mundo e me amavam. Se eles seriam capazes de fazer isso comigo, qualquer pessoa seria também.
No dia seguinte, domingo, tive a oportunidade de explicar para a minha criança que eles não sabiam que isso me faria tão mal, só queriam que eu me comportasse, achavam que estavam me educando e que eles nunca me abandonariam, por nada! Disse para ela que não precisava se preocupar mais com a pedinte porque ela era só uma mulher pobre que precisava de ajuda e não tinha nenhuma intenção de me fazer mal.
Fiquei livre para largar um relacionamento falido que não me fazia bem. Não para me provar que acabo sendo diminuida e esquecida, mas porque não me faz bem e ponto. Fiquei livre para DESVIAR DO BURACO.
Fiquei livre para olhar para o lado e ver que já tenho relacionamentos muito bacanas na minha vida, com meus amigos e minha família.
Fiquei livre para olhar para mim e dar andamento ao meu Projeto de Vida, sem me preocupar se no meio do caminho, algumas pessoas vão embora.
Fiquei livre para olhar para outras pessoas e querer me aproximar delas...amigos, gatinhos, contatos de trabalho.
É como eu estou me sentindo. Não sei se isso tudo vai se confirmar na prática, no cotidiano, mas tem sido assim e pretendo criar tantos estímulos quanto forem necessários para manter essa sensação gostosa de liberdade e alívio.
Enfim, era uma lata de tinta suvinil, das grandes. Mas...não está mais lá. No lugar dela, tem uma menininha feliz que sabe que é importante e amada. E, essa menininha, hoje é uma mulher cheia de vida, que não enxerga limites, que tem muita alegria, que tem muita força e a capacidade de uma fênix de morrer e renascer quantas vezes for necessário.

5 comentários:

  1. Dri,

    Ô lata chata, hein?

    Vê se te emenda! Nao basta botar a culpa na lata, agora os seus atos já sao de responsabilidade da menina grande. Açao e consequencia, sacou?

    Beijo.

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  2. Esqueci que a Lu é perfeita...sem traumas, sem medos, sem grilos. É...nem todo mundo é.
    Alguns tem latas. Alguns tem latas que não descobrem nunca. Ainda bem q eu não sou uma dessas pessoas.
    Saquei Lu, muito antes do que vc possa imaginar!
    Bjs

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  3. Dri,

    Estou muito feliz por você, por ter conseguido enxergar o porquê das coisas. Assim, com clareza, fica mais fácil desviar dos buracos.

    É importante perdoar quem fez isso com você, mesmo porque foi totalmente inconsciente, e principalmente perdoar a si própria. Vai ver como tudo fica muito mais leve.

    Olha que trauma é comigo mesma, tinha uma coleção deles, rs. Na verdade, ainda os tenho, mas sei como lidar com cada um.

    Beijo no coração!

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  4. Oi Dri,

    Sou perfeita nao, longe disso, tambem tenho minhas latas... podemos conversar sobre isso melhor pq eu realmente só quero o seu bem, mas me preocupo que voce sofra mais depois pq as consequencias sempre vem.

    Comentarios idiotas tambem ajudam.

    Sorte em tudo.
    Beijos,

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  5. Sabe Lu..pensei...
    Você postou uma opinião baseada no que leu e talvez eu tenha conseguido explicar (se é que é uma coisa explicável) como esse tipo de experiência é forte.
    Não foi idiota não, me desculpe.
    Só foi bom para eu entender que não adianta tentar explicar o que se precisa viver mesmo.
    E seus comentários são sempre pertinentes, mesmo quando a primeira vista eu os acho idiotas...me desculpe!
    Bjs

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